5 de mar. de 2011

A Terra Prometida - Parte 1

"Minha cabeça dói." - Ele pensou meio sonolento depois de acordar cheio de lama na cara. Seu corpo já exalava um mau odor suficiente para acharem que estava morto. Eram suas pernas que já haviam sangrado bastante. Muito frio e a roupa continuava sendo encharcada pela água da chuva.
O barulho de trovões deve tê-lo acordado. as feridas abertas eram enormes.  Já se imaginou numa dessas situações onde você tem certeza de que vai morrer? é..  Cristiano estava em uma parecida; pra não dizer idêntica.

Não dava pra saber que hora era aquela. Pra falar a verdade nem o dia dava pra saber.   Desmaiar de dor e acordar pode ser compreendido como um espaço de tempo que varia de horas à dias.

"Eu não sinto minhas pernas." - Pensou denovo com aquela sensação de que dali em diante só iria dar merda.
A cara já estava inchada de tanto chorar e gritar por socorro. Com aquela chuva, seria bem dificil de alguém passar alí e ajudar. A única saída era esperar por um milagre de Deus, o qual ele nem ao menos acredita.
É numa hora dessas que se deseja muito que exista um. Pra ele que só acredita em acasos, bem que repetir pra si mesmo que milagres acontecem parece meio desperdiçado.

Naquela noite ele fez a gentileza de brigar ao telefone com sua esposa Rafaella.  Tudo por causa de sua sogra que apareceu do nada e se instalou em sua casa. Logo no dia em que ele que havia programado de fazer um jantar surpresa a Rafaella. Afinal era o dia em que completavam 13 anos de casados.  Certamente que Rafaella sabia que algo interessante iria acontecer pelo jeito como ele falou com ela, mas como dizer isso a sua mãe que acabara de chagar de mala e cuia?

Quando Cristiano ligou a primeira vez, perguntou com risadinhas se ela estava pronta pra ficar a noite toda acordada.  Ele deu um jeito de deixar a filha dormir na casa da amiga do colégio só pra ter certeza que nada atrapalharia aquela noite. Rafaella ainda  ao telefone rangia os dentes de  nervoso sem saber o que fazer pois ao seu lado Wanda, sua mãe, já havia chegado pronta pra ficar, alegando que estava passando mal e que não poderia ficar em casa sozinha. O que dizer a Cristiano?

Então ele ligou de novo. Era hora dela contar.
- Amor preciso te falar uma coisa. Minha mãe tá aqui. Comeu muito doce de novo e está passando mal. A glicose dela está nas alturas e eu não tive como dizer não a ela.
- O que? - Disse ele deixando o celular cair no colo.  O carro deu um solavanco e ele quase enfartou.
- Sua mãe não tinha outro dia pra passar mal não!? - Gritou ele quase se engasgando com a saliva.
- Cris, você sabe que não está ao meu alcance dizer a minha mãe pra não vir, sabendo que ela está passando mal né? ou você vai mesmo brigar comigo por isso?

Ele desligou na cara dela. Não era a primeira vez que Wanda havia feito isso.
Certa vez, no carnaval, eles tinham alugado uma casa em São Pedro da Aldeia. Sandra, sua filha ainda tinha 8 anos.   Na rodoviária esperando o ônibus o telefone tocou acionando uma "bomba" nas mãos de Rafaella.
 - Dona Rafaella?! Gritava nervosamente a vizinha que encontrou D.Wanda estirada no chão depois de se fartar no pudim que comprara na padaria.
- A D.Wanda está roxa e respirando muito mal. Eu já acionei o plano de saúde dela , mas a senhora tem que vir aqui.  Estou desesperada!
Todos correram para casa de Wanda e deram adeus ao passeio.  Passar o carnaval ao lado de Wanda no hospital não agradou muito ao Cristiano.

Subindo as Serra Grajaú/Jacarepaguá Cristiano torce pra que aquela chuva não o faça ficar à pé.  Jacarepaguá, como muitos sabem, é o primeiro lugar a começar a chover e o último a parar. qualquer "ml" de chuva é suficiente pra dar nó no transito já caótico desse bairro.

Cristiano gastou uma grana comprando um monte de ingredientes dos mais caros pra fazer aquele macarrão ao molho branco que ele fez pra Rafaella quando a levou pra sua casa a primeira vez . Estourou o cartão de crédito comprando uma lingerie no SexShop que faria o "biquini de bolinha amarelinho da Ana Maria" parecer uma ceroula. Caixa de bombons, vinho, torradas.  Até o café da manhã ele já tinha comprado pra levar na cama.  Depois daquele telefonema maldito, nada mais seria como um dia sonhou Cristiano.
Dali em diante, aquela noite tinha tudo pra dar errado: Carro 1.0, à gas, na serra, com chuva, sogra doente em casa à sua espera.  Sempre dá pra piorar.

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